Por Marciane
Santo
Diretora Técnica do Sebrae no Amapá
Vivemos uma
nova realidade social provocada pela pandemia da COVID-19, com reflexos
profundos em nossa sociedade, cuja as consequências ainda estão sendo
percebidas, e muitas delas serão a médio e longo prazos. O ano de 2020, em meio
à pandemia, e ainda com expectativa das eleições municipais pela frente, apesar de
não parecer, as eleições ocorrerão em novembro. Mas, será que estamos
preparados, e os nossos empresários, os nossos gestores públicos e políticos
estão prontos para fazer gestão em ambientes com tantas modificações,
incertezas, instabilidade política e crise econômica?
E
para nos auxiliar neste complexo processo de análise e reflexão sobre os
desafios do futuro nas cidades, o Instituto Brasileiro de Cidades Humanas,
Inteligentes, Criativa e Sustentável, lançou recentemente um livro com o título
“O Futuro das CHICS”, trazendo várias análises sobre o futuro que nos espera.
Afinal,
o que são CHICS - Cidade Humana, Inteligente, Criativa e Sustentável? É aquela
que faz uma gestão integrada, integral, sistêmica e transversal de suas cinco
camadas: as pessoas; o subsolo; o solo; a infraestrutura tecnológica; e as
plataformas: Internet das coisas, Inteligência Artificial e Blockchain,
construindo uma cidade boa para viver, para estudar, para trabalhar, para
investir e para visitar, de forma sustentável, criativa e com alta qualidade de
vida. (IBCIHS, 2018)
Não
são necessários profundos exercícios de filosofia para perceber que as
mudanças, assim como a propagação do vírus, acontecem numa velocidade
inimaginável aos seres contemporâneos. Nas cidades, as catalisadoras
das mudanças serão, sem sombra de dúvidas, as empresas, que já iniciaram a
transformação de seus processos para a verdadeiramente era digital do
pós-COVID-19.
As empresas começaram, forçadamente, a implementar mudanças em função da
pandemia, mas em pouco tempo perceberam os benefícios. Realizaram a redução de custos fixos, implantaram
ferramentas digitais e canais remoto, buscaram a escalabilidade e romperam
barreiras geográficas, e, com isso, reduziram custos da operação. Ao observarmos
os clientes,
eles se adequaram ainda mais rápido que as próprias empresas. Já estão mais familiarizados com as
ferramentas tecnológicas, já consomem pelo delivery, fazem compras por
plataformas, e mesmo com a flexibilização das regras de distanciamento social,
muitos não pretendem voltar a frequentar locais com aglomeração de pessoas,
como em shoppings, lojas físicas e demais espaços comerciais com a mesma
frequência de antes da pandemia, ou seja, jamais voltarão a consumir no mundo
físico da mesma forma que antes, além da comodidade alcançada, também levarão
em conta os perigos que ainda nos cercam até que sejamos imunizados por meio de
vacina.
Paulo Medeiros, um dos autores do livro em questão, afirma que temos
muitas oportunidades em meio ao caos atual. “Com a crise social, política e
econômica há oportunidades para empresas, profissionais liberais, autônomos e
governos. Não haverá momento mais propício para a transformação de processos do
que este que estamos vivendo”. Nesta mesma perspectiva, precisamos pensar as
cidades, afinal, as empresas e as pessoas estão situadas nas mesmas, por meio
de seus governantes, gestores e agentes públicos, precisarão, obrigatoriamente,
de planos bem elaborados pautados em conceitos de cidades inteligentes, com
sustentabilidade, resilientes, humanizadas e priorizando a saúde coletiva, por
meio da prevenção e qualidade de vida. Não podemos descartar a possibilidade de
um novo ciclo de contaminação, as sequelas deixadas pela COVID-19, e até mesmo
o surgimento de outros vírus, bactérias, doenças, desastres e crises que virão.
E em caso de aparecimento, como devemos reagir?
Estamos vivendo crises econômicas e sociais inevitáveis e inimagináveis,
os ricos estão cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres em plena
pandemia. É impossível não observarmos o impacto desproporcional que o coronavírus
trouxe para as pessoas pobres e vulneráveis. Já são centenas de milhões de
brasileiros levados ao desemprego e à miséria. O desemprego aumentou, a fome, a
falta de moradia, os trabalhos exploratórios, a violência em lares e fora
deles, tudo isso em cidades já insolventes que permanecerão com essa herança
problemática por tempo indeterminado.
Segundo um estudo da ONG Oxfam, divulgado ontem, o patrimônio dos 42
bilionários do Brasil passou de US$ 123,1 bilhões para US$ 157,1 bilhões, ou
seja, o patrimônio dos bilionários brasileiros aumentou US$ 34 bilhões durante
a pandemia. Para Katia Maia, diretora executiva da Oxfam: “A Covid-19 não é igual
para todos. Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para
não perder o emprego ou para comprar o alimento da sua família no dia seguinte,
os bilionários não têm com o que se preocupar”.
A situação é ainda mais delicada se analisarmos os dados sobre os
desempregados trazidos na mesma pesquisa da Oxfam. A Organização Mundial do
Trabalho (OIT), já apurou que a pandemia deixou 41 milhões de desempregados na
América Latina, já o Banco Mundial estima que 50 milhões de latino-americanos
cairão da linha da pobreza para a linha da miséria ainda este ano. Todos os dados apresentados na
pesquisa trazem à tona a necessidade de profundas reformas na taxação de
impostos sobre grandes fortunas, a necessidade de torná-los progressivos, e
claro, a realização da reforma tributária, que já passou da hora de
acontecer.
As estruturas políticas, sociais e econômicas nos dão claros sinais de
colapso. E quem vai pagar a conta? O Governo Federal com os seus programas
emergências ineficientes? Certamente não, a bola da vez agora são os gestores municipais
que, nas próximas eleições, deverão dar respostas claras e objetivas à uma
população muito mais informada, digital e exigente, inclusive no que se refere
ao apoio para a manutenção e geração de pequenos negócios. Devemos lembrar que
as Micros e Pequenas Empresas (MPEs) são as geradoras de mais da metade dos
empregos formais no nosso país, e constituem a base da nossa frágil economia.
Os desejos básicos da população permanecem mais latentes do que nunca,
tais como: saúde, educação, segurança pública, emprego e renda, mas a forma de
consumi-los mudou significativamente. Já não se deseja frequentar órgãos públicos
lentos e abarrotados de pessoas, optando em resolver “problemas” pelos meios
digitais e remotos, evitando assim o transporte público, as salas cheias de
pessoas, o contato físico com servidores e senhas manuais. Para Paulo Madeiro,
o cenário pré-caótico, é apropriado para falar sobre CHICS em nossas cidades, “pois
somente com programas claros e objetivos de transformação das cidades, em
Cidades Humanas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis, é que sairemos com
maior brevidade das crises que virão. E será neste novo contexto que a gestão,
verdadeiramente efetiva, baseada em evidências e indicadores fará a diferença,
com eficiência e eficácia. Pensar no ensino público à distância, serviços
públicos virtuais, novos modelos de arrecadação, fim das organizações cartoriais,
fim de boa parte das profissões existentes, crescimento dos serviços de
entregas, autosserviços, documentos digitais, redução do número de equipamentos
públicos, transparência total, contato direto com o cidadão, eleições virtuais,
e uma centena de outras inovações se tornarão, até o próximo ano (2021), parte
do nosso dia a dia”.
Quando percebo a
definição das CHICS e o otimismo intrínseco, me reporto imediatamente a um
programa fantástico que o SEBRAE desenvolve há alguns anos, chamado Cidades Empreendedoras.
O programa pode ser desenvolvido por qualquer município através da adesão dos gestores municipais
(prefeitos), com o objetivo de transformar a realidade local, para que a
implementação de políticas públicas promovam, de fato, um ambiente favorável
aos negócios e para garantir mais recursos financeiros circulando. Com a
adesão, o Sebrae coloca seu time de técnicos e sua rede de consultores para
atuar junto aos gestores municipais e negócios locais. Os eixos de atuação
delimitados pelo programa são: Mapa de
Oportunidades, Plano de Desenvolvimento, Sala do Empreendedor, Desburocratização
– Redesimples, Compras Públicas Sustentáveis, Cultura Empreendedora e Inovação
e Liderança Empreendedora.
O Cidade Empreendedora, tem como
objetivo a transformação local pela implantação de políticas de desenvolvimento
em eixos estratégicos. É uma solução ideal para municípios interessados em transformar a situação em
que se encontram permitindo o aprimoramento do Ambiente de Negócios. O Ambiente
de Negócios pode ser definido como sendo o conjunto de fatores externos que
cerca e influencia as decisões da atividade empresarial em determinado
município, depende diretamente da atuação dos agentes públicos, por meio de um
conjunto de leis que incentivam os empreendedores e garantem a segurança
necessária para atuar.
Um bom ambiente de negócios é um
pré-requisito para que uma empresa obtenha sucesso em suas atividades, afinal,
envolve a simplificação e desburocratização de procedimentos como a abertura e
fechamento de empresas, recolhimento de tributos, fiscalização e incentivo
fiscal. Deve contar com a indispensável participação e sensibilidade ativa dos
gestores públicos.
Desejamos e buscamos, que os desafios postos
sejam superados com gestão colaborativa, foco no bem comum, com estímulo ao
empreendedorismo cidadão, passando pela reinvenção da saúde pública com ênfase
em pesquisa e prevenção, e claro, com a redução da desigualdade social que leva
incontáveis cidadãos ao anonimato.
Palavras sábias Marciane, enquanto nós estivermos esperando mudanças sem renovações jamais encontraremos sucesso, isso é fato com tudo que estamos vivendo nós últimos meses,paro e penso,os novos tempos chegaram logo todos temos viver essa nova era.
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